junho 22, 2014

[Livros] A Máquina de Contar Histórias - Maurício Gomyde

Título Original: A Máquina de Contar Histórias
Autor: Maurício Gomyde
Editora: Novo Conceito
Páginas: 192
Gênero: Romance
País: Brasil
ISBN: 9788581635040
Classificação★★☆☆☆
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A Máquina de Contar Histórias é o primeiro livro de Maurício Gomyde a ser lançado pelo selo Novas Páginas da Editora Novo Conceito. Eu sou fã confessa do autor e talvez por conta disso tenha me decepcionado tanto com o livro. Seus últimos romances foram tão arrebatadores que eu devorei este esperando por algo ainda melhor, o que não aconteceu. Mas todas as resenhas que eu li desse livro, sem exceções, foram positivas, o que me leva a crer que apenas para mim a história não funcionou. A capa também é uma das mais feias da NC e apesar de seu significado vintage trazendo referências a trechos da narrativa, não conquista mesmo pela aparência. 

Eu costumo achar o modo de Gomyde narrar uma história é bem sutil e sem rodeios, ao contrário de Nicholas Sparks, por exemplo, que é essencialmente detalhista. Porém dessa vez, o livro me pareceu corrido demais, sem profundidade emocional. Apesar de tratar de temas complexos como a saudade, o luto, o amor e a culpa, não consegui nos diálogos sentir conexão emocional alguma com esses temas, foram diálogos forçados, clichês, exagerados e ao meu ver, que causaram um efeito superficial nessa, que tinha tudo para ser uma linda história. 

O que é engraçado, e talvez irônico, é que em 'A Máquina...', o autor traz a história de um escritor famoso, renomado e aclamado pela crítica, que escreve livros sobre o amor. Até aqui, pode se perceber uma grande semelhança entre o criador e a criatura, certo? O problema é que o protagonista Vinicius Becker escreve livros pensando no seu retorno financeiro, utilizando fórmulas prontas para comover e agradar leitores no mundo inteiro. Vinicius cria histórias cheias de sentimento, quando ele mesmo não consegue sentir nada do que coloca no papel. 

O autor tem uma família em crise e após a morte da mulher Viviana, sente-se culpado por ter sido tão ausente e ter perdido tanto tempo da sua vida se dedicando ao sucesso e a fama como escritor. Agora, essas podem ter sido as únicas coisas que restaram para ele. Suas filhas o desprezam, em especial a mais velha, Valentina, que viu o sofrimento da mãe com câncer, nos últimos quatro anos. Enquanto a filha se dedicava e cuidava da mãe, já em estado terminal, Vinicius fugia de seus problemas e escrevia freneticamente, um livro atrás do outro, como uma máquina.

Agora, ele percebe que o sucesso de nada serve quando não se tem uma família. Além de tentar reconquistar o amor das filhas, o escritor deverá também rever seus conceitos sobre a literatura. Ele, que escreve de maneira fria e calculista, seguindo padrões e regras, vai aprender ou reaprender a ser escritor. Nos textos de Vinicius, podemos perceber um padrão, feito para tentar emocionar e eu infelizmente percebi esse padrão no livro de Gomyde. Muito do livro é previsível e eu não me surpreendi com nada do que aconteceu, em especial com o final. 

Talvez o que tenha faltado nessa história seja o uso daquele famoso ditado: 'o menos é mais'. Vinicius, quer dizer, Gomyde, exagerou na carga emocional do livro e não conseguiu um bom desenvolvimento das situações criadas, isso acabou afetando muito a minha percepção sobre toda a trama. A morte de Viviana, por exemplo, foi mal trabalhada e não me comoveu, foi como se ela e Vinicius não fossem casados, não teve sentimento nenhum. E depois em algumas passagens, Gomyde já mostra o amor do casal 'V' como um grande amor, uma paixão avassaladora. Essa e outras inconsistências - como o comportamento de Valentina, oscilando entre a inocência de criança e a revolta adolescente na mesma conversa -, me incomodaram bastante na leitura.

Após a morte da esposa, Vinicius começa a perceber o quanto a amava, mas como ele não percebeu isso nos quatro anos em que ela esteve doente, já não há o que fazer. Há poucos momentos de autopiedade, que é o que esperamos de alguém que cometeu um erro tão grave quanto esse (deixar a mulher morrer sozinha enquanto ele está em coquetéis e lançamentos de seus livros), se não poucos, não suficientes. Ele já sabia que ela ia morrer, então foi como se ele estivesse apenas esperando. Não houve a emoção que se espera de alguém em luto, Vinicius é um personagem irritante, calculista, frio e que conquistou meu desprezo eterno, nem quando tenta se redimir consegue me comover. 

O único ponto que me agradou foi próximo do final do livro, numa metáfora que pude perceber. Nem sei ao certo se essa foi a intenção do autor, mas a filhinha mais nova de Vinicius se chama Vida, e em determinado ponto da narrativa, fica uma dúvida sobre o futuro de Vida, essa é a real metáfora. A vida não pode ser prevista, os acontecimentos não são controlados por nossa vontade. As coisas acontecem se tiverem que acontecer. Seja com Vinicius, Viviana, Valentina ou Vida.

Gosto muito da escrita de Maurício Gomyde e não é por causa de uma experiência ruim que vou deixar de admirá-lo. Pelo contrário, espero ansiosa por seu próximo livro. Torcendo para que este seja escrito com mais calma e que o autor se deixe levar pelos sentimentos dos personagens, assim como aconteceu em O Rosto que Precede o Sonho. Infelizmente desse livro fica a decepção e a torcida para que seu próximo título seja melhor. Fico feliz que tanta gente tenha gostado e queria mesmo ter sentido uma conexão, alguma coisa. Não senti.

"- Meu amor, eu...
- MAIS UMA VEZ VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI! - o berro agudo ecoou dentro do carro.
Vida acordou chorando, dona Lourdes abraçou-a para confortá-la e preferiu ficar em silêncio.
- Mas... - ele tentou dizer alguma coisa.
- VOCÊ NÃO SE DESPEDIU DELA, você não se despediu dela, você não se despediu... - Valentina começou gritando e as frases foram diminuindo de volume, até ela murmurar pela última vez, olhando pela janela, ainda de costas para o pai." (p. 23)

Sinopse: Na noite em que o escritor best-seller Vinícius Becker lançou A Máquina de Contar Histórias, o novo romance e livro mais aguardado do ano, sua esposa Viviana faleceu sozinha num quarto de hospital. Odiado em casa por tantas ausências para cuidar da carreira literária, ele vê o chão se abrir sob seus pés. Sem o grande amor da sua vida, sem o carinho das filhas, sem amigos... O lugar pelo qual ele tanto lutou revela-se aquele em que nunca desejou estar. Vinícius teve o mundo nas mãos, e agora, sozinho, precisa se reinventar para reconquistar o amor das filhas e seu espaço no coração da família V. Uma história emocionante, cheia de significados entrelaçados pela literatura, mostrando que o amor de um pai, por mais dura que seja a situação, nunca morre nem se perde.

"- Não há maior dor do que a de nos recordamos dos dias felizes quando estamos na miséria - Vinícius recitou e olhou para Valentina. - Dante Alighieri. 
Sabia tudo e um pouco mais sobre a alma humana.
Valentina murmurou, depois de um breve silêncio.
- Dias felizes que você jogou fora." (p. 94)


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