julho 28, 2016

[Filmes] Negócio das Arábias (Cabine de Imprensa - Mares Filmes)


Ontem, (27/07), estive na 1ª Cabine de Imprensa de Negócio das Arábias no shopping Eldorado em São Paulo, o blog foi convidado pela distribuidora Mares Filmes. A adaptação cinematográfica do livro "Um Holograma Para O Rei" que foi publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras e tem como protagonista ninguém menos que o fantástico Tom Hanks estréia em 4 de agosto nos cinemas brasileiros.

Em mais uma atuação brilhante, Hanks interpreta Alan Clay um vendedor de meia-idade que se vê sua vida desmoronar ao perder seu carro, casa e esposa - não necessariamente nessa ordem. Após o divórcio, a responsabilidade de custear a faculdade da filha recai sobre ele e para conseguir bancar os caros estudos da filha, ele decide tentar fechar uma venda milionária com o poderoso Rei da Arábia Saudita.

O projeto - um sistema de tecnologia holográfica - apesar de genial, esbarra em muitos obstáculos, sendo o principal deles a falta de vontade dos funcionários Reais. Ao encontrar o Centro de Negócios, um terreno no meio do deserto onde ainda não há nada construído, o vendedor percebe que tem um desafio enorme pela frente. O próprio Rei passa meses afastado de seus negócios e, enquanto aguarda ansiosamente pela oportunidade de apresentar seu produto, Alan descobre mais sobre si mesmo e começa a questionar o rumo que sua vida tem tomado.

Repleto de metáforas, muitas delas pouco claras de início, Negócio das Arábias fala sobre um homem que está perdido. Em uma clara alusão ao centro de negócios, a atual vida de Alan Clay é apenas um projeto, não há absolutamente nada. Não há referência mais devida do que estar perdido no deserto. 

Com coadjuvantes árabes caricatos e exagerados, o tom cômico do filme é alto. Tom Hanks usa um tom de voz característico dos vendedores e suas ações parecem forçadas, mas são na verdade muito próprias para seu personagem. As piadas, apesar de clichês, em sua maioria funcionam e é impossível não se divertir com as catástrofes que cercam a vida do protagonista.

Desacostumado ao fuso-horário árabe, Alan todos os dias perde a hora de ir para o trabalho e acaba tendo que pedir um taxi. O motorista é um divertido rapaz chamado Yousef que eleva a comicidade do filme ao extremo. Atrapalhado e tagarela, Yousef se torna um bom amigo para o americano e torna sua estadia algo memorável.

Alan Clay pergunta a cada uma das pessoas que conhece de qual país ela é. O hábito, que parece não ter nenhuma relação com o filme, na verdade esconde a real intenção por trás da história: mostrar as múltiplas culturas que formam uma sociedade. Todas as pessoas que conhecemos nos impactam de alguma forma e deixam um pouco de si conosco, umas mais e outras menos. Alguém que chegou sem nada a um país desconhecido pode terminar cheio de histórias para contar e, até quem sabe, um pouco mais feliz.

Em suma, este é um filme divertido, complexo e muito metafórico. A primeira parte pode parecer tediosa porque visa transmitir a real situação na qual o protagonista se encontra, mas aos poucos o ritmo aumenta e o deserto mostra ter mais do que grãos de areia. Há, até mesmo, uma crítica à economia atual que sofre com a desvalorização que países como a China impuseram ao mercado econômico, essa situação impacta inclusive na trama. Uma mistura de muitos temas, sotaques, personagens, culturas e histórias, Negócios das Arábias pede reflexão e funciona como um holograma, trazendo a seu espectador uma visão tridimensional da vida de um homem e das consequências de suas escolhas.

[Livros] Depois de Você - Jojo Moyes (Como Eu Era Antes de Você #2)

Título Original: After You
Autor: Jojo Moyes
Editora: Intrínseca
Páginas: 320
Gênero: Romance, Ficção
País: Reino Unido
ISBN: 9788580578645
Classificação: ★★★
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Um dos livros mais aguardados do ano, Depois de Você foi lançado com expectativa duplicada após a estreia da adaptação cinematográfica de Como Eu Era Antes de Você. Retomando a história de Lou Clark alguns anos após a irreversível decisão de Will Traynor, este é um livro que fala sobre o luto e a culpa. Não é romântico, fofo e nem traz questionamentos profundos, ele simplesmente retrata, verdadeiramente, a vida após a morte. Ou o que sobra dela.

Em um tom que chega a ser depressivo, encontramos uma Lou devastada pela dor. Conviver com a ausência de Will e as consequências que ele deixou para trás, destruiu a vida de Louisa. Julgada por pessoas que não concordaram com sua atitude, em especial sua própria mãe - uma mulher muito religiosa e conservadora -, a jovem decidiu tentar fazer o que Will lhe pediu: viver plenamente. Mas ao invés de conhecer o mundo e ampliar seus horizontes, ela passou a fugir de seu passado em uma vida ainda pior que antes.

Depois de Você é o completo oposto do livro anterior pois apresenta sua protagonista sem brilho, deprimida e destruída - como dito anteriormente. Todo o bom humor, extravagância e a alma colorida de Lou desapareceram dando lugar ao cinza de seus dias. A narrativa que, de início, é bastante pessimista pode contagiar seu leitor e persuadi-lo a desistir do livro, mas enquanto muitos vêem isso como um fracasso da autora, é possível enxergar o exato oposto. A capacidade de Jojo Moyes de nos transportar para a história é incrível e ao compreender os sentimentos da personagem somos afetados por ela.

Em uma vida medíocre - incrivelmente mais medíocre do que antes - Louisa Clark percebe que fracassou ao tentar realizar a única coisa que Will Traynor pediu a ela. Depois de ter deixado para trás sua barulhenta e intrometida família para viver em Paris, a moça se isolou do mundo numa tentativa desesperada de esquecer o que aconteceu. Obviamente, não funcionou. Porém, a monótona vida da garçonete vai mudar drasticamente com a visita de uma adolescente que carrega uma informação extremamente importante e um incrível grupo de apoio preparado para ampará-la.

Decidi dar o mínimo de detalhes sobre o enredo para não interferir nas primeiras impressões de vocês. Cada personagem que Jojo Moyes introduz no livro é cativante ou irritante ao extremo e essas emoções devem ser percebidas de maneira singular por cada leitor. Em grande maioria, os personagens são irritantes. A família inteira de Louisa é insuportável, desde sua intrometida irmã até sua dramática mãe. O único personagem que, outra vez, mostrou ser especial foi Nathan. O ex-cuidador de Will continua aconselhando Lou e, como um verdadeiro amigo, faz o que pode para que ela seja feliz.

Felicidade, aliás, é a palavra que norteia a busca de Louisa Clark. Will Traynor só pediu que ela vivesse bem, fizesse o melhor que pudesse com sua vida. No entanto, ao abandoná-la, o jovem empresário levou consigo até a última dose de alegria que a jovem tinha em si mesma. Foi justamente como se o veneno que o matou tão rápido, a tivesse matado lentamente. 

A jovem de sorriso contagiante e roupas bregas se perdeu, mas com a ajuda de alguns amigos, pôde se encontrar novamente e, aos poucos, redescobriu o caminho de casa. O final - nada conclusivo - deixa uma ponta solta para possíveis continuações e coloca reticências na vida antes tão cheia de exclamações de Lou. 

"Aprendemos a conviver com a perda, com as pessoas que nos deixam. Porque elas permanecem conosco, mesmo não estando vivas, mesmo não respirando mais. Não é a mesma dor avassaladora que sentimos no começo, aquela que nos invade e dá vontade de chorar nos lugares errados, que nos deixa irracionalmente irritados com todos os idiotas que ainda continuam vivos, enquanto quem amamos está morto. Mas aprendemos a nos adaptar. É como se acostumar com um buraco dentro de nós. Sei lá. É como se nos tornássemos... um donut quando queríamos virar um pão." (p. 112)

Sinopse: Com mais de 5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Como eu era antes de você conta a história do relacionamento entre Will Traynor e Louisa Clark, cujo fim trágico deixou de coração apertado os milhares de fãs da autora Jojo Moyes.

Em Depois de você, Lou ainda não superou a perda de Will. Morando em um flat em Londres, ela trabalha como garçonete em um pub no aeroporto. Certo dia, após beber muito, Lou cai do terraço. O terrível acidente a obriga voltar para a casa de sua família, mas também a permite conhecer Sam Fielding, um paramédico cujo trabalho é lidar com a vida e a morte, a única pessoa que parece capaz de compreendê-la.

Ao se recuperar, Lou sabe que precisa dar uma guinada na própria história e acaba entrando para um grupo de terapia de luto. Os membros compartilham sabedoria, risadas, frustrações e biscoitos horrorosos, além de a incentivarem a investir em Sam. Tudo parece começar a se encaixar, quando alguém do passado de Will surge e atrapalha os planos de Lou, levando-a a um futuro totalmente diferente.

"- Não estou apaixonada por um fantasma. (...)
- Então deixe ele ir, Lou." (p. 263)

julho 26, 2016

[Filmes] 3 Filmes Para Pensar #2

Recentemente tenho postado no Facebook meu desafio de assistir filmes que me levem a questionamentos profundos. Sabe aquele tipo de filme que faz você pensar e até mesmo desconstrói seus paradigmas? Na minha opinião, quanto mais mind blowing melhor!

Muitas vezes as pessoas desistem de assistir ou chegam à conclusão de que um filme é ruim simplesmente por não entendê-lo. Se você não conseguiu captar a mensagem, não se precipite, procure conversar com outras pessoas, ler críticas sobre o filme. Pesquisar e procurar ajuda para compreender algo não é sinônimo de ignorância, pelo contrário, é uma forma de adquirir conhecimento além dos seus próprios limites.

Nessa coluna especial de férias, trago semanalmente três filmes que assisti recentemente e me impactaram de alguma forma. A maioria deles está no Netflix. Minha recomendação, como sempre, é para que vocês os assistam no idioma original (com legendas, se necessário). A dublagem costuma fazer adaptações no roteiro. 

Os três filmes escolhidos dessa semana são:

Sociedade dos Poetas Mortos (1989) - Trailer

Um dos mais comoventes e intensos filmes sobre educação e o início da vida adulta, Sociedade dos Poetas Mortos fala sobre a poesia da vida. Com atuações brilhantes, em especial a do mestre Robin Williams, esta é uma das lições mais importantes que o ator poderia ter nos deixado. 

Sociedade dos Poetas Mortos fala sobre como o Sistema e a sociedade destroem os sonhos dos jovens, esfacelando-os e transformando-os em máquinas incapazes de pensar por si próprios. Quando um professor desafia todas as convenções de ensino estimulando seus alunos a questionarem suas vidas, carreiras e escolhas, as coisas começam a mudar, mas as consequências dessas mudanças podem ser devastadoras.

É um filme que faz chorar, questionar e lamentar por ser ainda, infelizmente, um retrato da nossa sociedade. As escolas destroem a individualidade das crianças e as preparam para suas vidas profissionais deixando-as completamente despreparadas para a própria vida.

Lovelace (2013) - Trailer

Um dos retratos mais cruéis do machismo e do papel que a mulher interpretava - e em alguns lugares e culturas ainda interpreta - Lovelace conta a história da famosa atriz pornô Linda Lovelace. O filme baseado em sua biografia conta como a jovem e doce garota entrou para o mundo dos astros da pornografia americana. 

Linda foi forçada pelo marido a protagonizar um dos maiores e mais famosos filmes pornográficos de todos os tempos: Garganta Profunda. Em uma época em que a mulher devia obediência ao marido, a esposa fez tudo o que o violento Chuck Traynor ordenou que ela fizesse e isso incluía todo o tipo de coisa em frente às câmeras e por trás delas.

Ao mesmo tempo que é um filme controverso, Lovelace não fala apenas sobre a pornografia, mas também sobre a vida da protagonista, seus dramas e sobre como sua própria família não a ajudou a fugir do marido violento, pois uma boa esposa devia se comportar. Extremamente realista, a biografia de uma corajosa sobrevivente dá voz às mulheres e desmistifica parte da indústria pornográfica mostrando que nem sempre a mulher está, de fato, gostando.

Precisamos Falar Sobre O Kevin (2011) - Trailer

Um dos filmes mais violentos, pesados e perturbadores que já assisti, Precisamos Falar Sobre o Kevin é um filme que precisa ser visto e discutido. Em um mundo onde as crianças são criadas pela televisão e não por seus próprios pais - devido às mudanças no mercado de trabalho e ambições profissionais - Kevin é mais um adolescente sobre o qual alguém devia ter conversado. 

Desde o começo do filme fica claro que Kevin cometeu um crime, algo extremamente cruel. Narrando a história por meio de flashbacks de sua mãe, Eva, conhecemos o pequeno Kevin e suas tendências à psicopatia. Desde pequeno, o garoto que tanto odiava a mãe sabia manipular tudo e todos. 

Com atuações excelentes, incluindo a de Tilda Swinton e Ezra Miller, a adaptação do romance homônimo é surpreendente. O clima de tensão sob o qual vai sendo desenrolada a trama e a fotografia de tom avermelhado, que tanto remete ao sangue derramado por Kevin, capturam a atenção do espectador. Cada uma das lembranças de Eva é aterrorizante e, alternando entre seu passado e presente, vemos sua vida se transformar num verdadeiro inferno por causa de seu próprio filho - e fica no ar o maior questionamento: talvez também por causa de si própria.

julho 20, 2016

[Livros] Coração Perverso - Leisa Rayven (Starcrossed #3)

Título Original: Wicked Heart #3
Autor: Leisa Rayven
Editora: Globo Alt
Páginas: 360
Gênero: Ficção, New Adult
País: Austrália
ISBN: 9788525060433
Classificação: ★

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Coração Perverso é mais um daqueles romances encantadores que misturam relacionamentos palpáveis e surreais numa mesma narrativa. De maneira cômica e descontraída, a autora finaliza a trilogia Starcrossed com um livro tão gostoso quanto seu protagonista, e desta vez não falo de Ethan Holt. 

Toda a magia do teatro se torna, mais uma vez, enredo para a narrativa de Coração Perverso e como uma forte referenciação ao gênero, dentro da história central há uma peça de Shakespeare - A Megera Domada. A escolha genial da peça não só retrata o simbolismo da atuação dentro do próprio livro, como também evidencia a admiração da autora pelo dramaturgo inglês. Shakespeare também foi um grande adepto de frame stories - uma história dentro da história - e utilizou a técnica em muitas de suas peças. 

Todos conhecíamos Elissa Holt como a irmã do ator, galã e sedutor Ethan Holt. Personagem coadjuvante nos livros anteriores, Elissa, apesar de também ter estudado teatro, não seguiu a carreira do irmão e acabou se tornando diretora de palco. Ela literalmente nunca quis ficar sob os holofotes, pelo contrário, fugia deles, assim como fugia de relacionamentos com atores.

Suas péssimas experiências do passado fizeram com que Elissa decidisse nunca mais se envolver com um ator. O que ela nunca esperou foi se apaixonar justamente por outro deles. Liam Quinn parecia ser só um cara legal, bonito, simpático, sensual e interessante, mas ele também era a pessoa mais errada no planeta para a jovem diretora de palco e, assim, o destino se encarregou de uni-los apenas para separá-los depois. 

Anos após a separação dolorosa dos dois, Liam, que agora é um superastro de Hollywood, acaba sendo contratado para participar de uma peça dirigida por Elissa. Como se não fosse o bastante respirar o mesmo ar que o homem que mais a magoou na vida, ele ainda fará par romântico com sua noiva, a bela Angel Bell. Lissa não acredita em destino, mas se acreditasse diria que alguém lá no alto a odiava, muito.

A tensão, especialmente sexual, que envolve Liam e Lissa é absurda e resolver isso enquanto lidam com a fama, a peça, o casamento, a mídia e os paparazzi é um desafio. Enquanto A Megera Domada é minunciosamente ensaiada, montada e dirigida, os dois protagonistas dessa história percebem que, apesar de terem se passado tantos anos, ainda não conseguem domar seus próprios sentimentos.

Como em Meu Romeu e Minha Julieta, Coração Perverso traz uma história de amor shakesperiana, onde os protagonistas enfrentam os mais diversos obstáculos em sua jornada. Na história de Elissa Holt não há tragédia como na tradição teatral, mas há mágoa e sofrimento. O tempo pode não ser capaz de apagar o passado, mas se não formos capazes de superar toda a dor que enfrentamos por amor, teremos o mais perverso dos corações. A mágoa é tão forte que é capaz de nos destruir, fazer nosso coração parar de bater, como o veneno que a doce Julieta um dia tomou por amor.

"No segundo em que digo seu nome, algo muda na atmosfera da sala. Naquele momento ele não é uma estrela de cinema, e eu não sou sua diretora de palco. Somos as mesmas duas pessoas desesperadamente ligadas uma à outra que caíram no buraco do coelho anos atrás e saíram dele completamente mudadas." (p.33)

Sinopse: Elissa Holt tem uma regra quando se trata de relacionamentos: ela não namora atores. Sua bem-sucedida carreira de diretora de palco em Nova York a ensinou que eles não são confiáveis, e isso se comprova quando ela conhece Liam Quinn.

Eles tiveram um breve, porém intenso romance há seis anos, pouco tempo antes de Liam se mudar para Hollywood, fazer sucesso em grandes produções de cinema e quebrar o coração de Elissa ao começar a namorar Angel Bell, a atriz queridinha da América.

Agora o casal do momento está em Nova York para estrelar a peça "A Megera Domada", de Shakespeare, da qual Elissa será, coincidentemente, a diretora de palco. Apesar de o cenário ser completamente diferente, tudo o que aconteceu entre eles – e o que poderia ter acontecido – vem à tona. Mesmo Elissa sabendo que se entregar a Liam de novo poderia gerar uma tragédia, fica claro que o amor e o desejo nem sempre seguem o script...

"O mundo dele é cheio de estreias de filmes e festas. Sou a pessoa que controla o holofote, não a que fica sob ele. Eu passo a maior parte do tempo no escuro. Citando um antigo provérbio chinês: tudo bem se um pássaro e um peixe se apaixonarem, mas onde eles vão morar?" (p. 268)

julho 18, 2016

[Filmes] 3 Filmes Para Pensar #1

Recentemente tenho postado no Facebook meu desafio de assistir filmes que me levem a questionamentos profundos. Sabe aquele tipo de filme que faz você pensar e até mesmo desconstrói seus paradigmas? Na minha opinião, quanto mais mind blowing melhor!

Muitas vezes as pessoas desistem de assistir ou chegam à conclusão de que um filme é ruim simplesmente por não entendê-lo. Se você não conseguiu captar a mensagem ou não chegou a ser afetado pela história, não se precipite, procure conversar com outras pessoas, ler críticas sobre o filme. Pesquisar e procurar ajuda para compreender algo não é sinônimo de ignorância, pelo contrário, é uma forma de adquirir conhecimento além dos seus próprios limites.

Nessa coluna especial de férias, vou trazer semanalmente três filmes que assisti recentemente e me impactaram de alguma forma. Todos - por enquanto - estão no Netflix. Minha recomendação, como sempre, é para que vocês os assistam no idioma original (com legendas, se necessário). A dublagem costuma fazer adaptações no roteiro. 

Os três filmes escolhidos dessa semana são:

Circle (2015) - Trailer

Um filme com orçamento baixíssimo que tem como cenário uma só locação: um círculo dentro de um ambiente fechado. Classificado como "filme de terror", o filme não chega a gerar medo, mas sim apreensão. Cinquenta estranhos acordam num lugar estranho e suas vidas dependem de um consenso geral. A cada dois minutos alguém morre e todos votam para escolher quem será o próximo. 

O mais interessante no filme não é tentar descobrir quem sobreviverá, mas sim os argumentos usados para escolher quem tem mais direito a permanecer no "jogo". Discutindo questões raciais, econômicas, estado civil, patriotismo, homossexualidade, idade, religião, valores morais e outros, Circle é uma representação da realidade. Em um mundo onde sobrevivem os mais fortes, o que determina força ou fraqueza?

Die Welle - A Onda (2008) - Trailer

Um dos filmes mais incríveis sobre educação, moral e política, A Onda fala sobre fascismo. O longa alemão é uma refilmagem do filme americano homônimo dos anos 80. Baseado num experimento chamado Terceira Onda que tinha como objetivo ensinar aos alunos como funcionava uma autocracia. O experimento, tanto na vida real quanto na ficção, gerou uma massa de estudantes controlados por um indivíduo autoritário. 

No filme de 2008, o próprio professor universitário se deixa corromper com o poder e isto traz a tona mais um questionamento importante do século XXI. O homem é corruptível e ele tem ciência disso. O que começa com uma aula sobre autocracia se torna um movimento fascista que toma conta de um grande número de jovens. O sentimento de não-pertencimento e solidão que os jovens enfrentam é usado como combustível para que eles se unam e, assim, se tornem mais fortes, superiores aos demais.

O discurso pedagógico acaba se tornando uma arma na mão de mentes fracas e desesperadas por atenção e, assim como aconteceu com o nazismo, a ideia se espalha gerando violência, caos e intolerância. Existe orador melhor que um bom professor? 

Enemy - O Homem Duplicado (2013) - Trailer

Um dos filmes mais complexos e geniais, O Homem Duplicado foi inspirado no livro de José Saramago e é igualmente perturbador. Esta é uma história cheia de metáforas e representações simbólicas e, portanto, de difícil compreensão. Há uma forte relação com os temas das aulas ministradas pelo protagonista e sua noção de realidade. Esses paralelos traçados entre o discurso implícito e explícito são brilhantes.

Adam é um professor de história que vive uma vida pacata, preso a uma rotina monótona. Certo dia, ao descobrir que há alguém exatamente como ele - com a mesma voz e a mesma aparência, Adam fica completamente perturbado e decide investigar o rapaz. 

Apesar da personalidade e profissão dos dois ser diretamente oposta, os conflitos que ambos enfrentam os unem. Uma fotografia claustrofóbica cheia de closes bizarros e aranhas assustadoras gera uma espécie de terror psicológico e transmite ao espectador a paranoia e a perturbação que acometem os dois protagonistas. É um filme a ser discutido, pesquisado e retrata as diferentes facetas do ser humano, seus hábitos, suas tendências e, principalmente, suas limitações. 

julho 17, 2016

[Livros] O Acordo - Elle Kennedy (Amores Improváveis #1)

Título Original: The Deal #1
Autor: Elle Kennedy
Editora: Paralela
Páginas: 360
Gênero: Ficção, New Adult
País: EUA
ISBN: 9788584390274
Classificação: ★

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Um new-adult romântico e sensual que arranca suspiros, O Acordo é um daqueles livros que você devora em poucas horas. A narrativa flui num ritmo gostoso de acompanhar e os personagens são tão encantadores e divertidos quanto complexos. Elle Kennedy escreve sobre aquela fase da vida que marca o início da vida adulta e sobre todos os questionamentos que rondam esse período. Mais do que uma história, este é um acordo que vai lhe trazer uma excelente história em troca de seu amor incondicional por ela.

Depois de ouvir inúmeros comentários positivos sobre a série Off-Campus, ou Amores Improváveis no Brasil, resolvi solicitá-lo à editora e só me arrependi de não tê-lo feito antes. De uma maneira quase viciante, Kennedy consegue nos transportar para a vida de seus protagonistas. Seus personagens principais, inclusive, são muito bem construídos e, apesar do clichês new-adults, conseguem trazer algo novo ao gênero.

Hannah Wells é uma garota diferente das demais, seus hábitos e gostos peculiares são, por muitas vezes, típicos das meninas nerds - um beijo para quem também se identificou. Tímida e inteligente, a jovem é uma das únicas pessoas no planeta na faculdade que não se interessam pelo lindo Garret Graham, o popular capitão de hóquei da faculdade. Hannah está de olho no - também lindo - Justin Kohl e para se aproximar dele e ser notada, ela vai fazer o possível e o impossível.

Garret Graham só tem uma preocupação na vida: dar o seu melhor no hóquei. O esporte que domina sua vida - por motivos que só serão revelados posteriormente - é o que o motiva e o faz feliz. No entanto, quando vai mal em uma das matérias mais importantes da faculdade, sua posição no time é ameaçada e se ele não recuperar a nota, não poderá mais jogar. 

Todos da classe parecem ter ido mal, exceto Hannah Wells. O garoto decide então tentar convencê-la a ajudá-lo, mas essa tarefa não será nada fácil porque ela simplesmente o detesta. O motivo para tanto desprezo é que Garret é exibido, convencido e flerta com todas as garotas, ou seja, tem no pescoço o típico aviso de: mantenha distância. E, além de tudo, é excepcionalmente bonito. 

Quando descobre a paixonite de Hannah por Justin, Garret decide fazer um acordo para ajudá-la a chamar a atenção do garoto dos seus sonhos em troca das suas tão preciosas aulas particulares. Ainda com receio, Hannah aceita, e aos poucos vai percebendo que o capitão convencido do time de hóquei é na verdade um cara bem legal. A amizade deles é construída lentamente e é notável o amadurecimento dos dois no decorrer da narrativa.

Um beijo intenso, no entanto, prova que essa amizade pode virar algo mais e esses dois jovens cheios de traumas e conflitos internos terão de reconstruir todas as impressões que tem um do outro. Apesar de abordar temas densos como estupro, drogas, abuso, futuro e amor, Elle Kennedy consegue trazer uma leveza incomum à sua história. Cada sentimento, pensamento ou emoção de seus protagonistas -narradores alternados em primeira pessoa - é vívido e palpável. É impossível não se colocar em seus lugares, não compreendê-los e, acima de tudo, não amá-los. 

Com bom humor e sagacidade, os diálogos entre os protagonistas esbanjam inteligência e as provocações trocadas pelos dois antecedem a enorme tensão sexual que os envolve. Com cenas sensuais muito bem escritas, a autora une dois personagens opostos que se completam de muitas maneiras, inclusive no sexo. 

Mais do que um livro sobre falsas primeiras impressões, O Acordo mostra que todos somos um emaranhado de lembranças, traumas e emoções mal resolvidas, peças soltas que só podem ser vistas se observadas de perto. O acordo que aproxima Garret e Hannah não é o mesmo pacto que os mantém juntos, a relação de amor-amizade que eles desenvolvem vai aos poucos colocando cada peça no lugar e consertando-os da maneira mais improvável possível.

"(...) Às vezes não me sinto nem metade desse cara que as pessoas têm certeza que sou, e não tenho dúvidas de que, se elas se dessem ao trabalho de me conhecer de verdade, provavelmente mudariam de ideia. É como aquele lago em que esquiava quando era criança - de longe, o gelo parecia tão lisinho e brilhante, mas, ao chegar perto, a superfície irregular e as marcas de patins se tornavam visíveis. É a mesma coisa comigo, acho. Coberto de marcas de patins que ninguém parece perceber."
(p. 61)

Sinopse: Tocante, profundo, engraçado, sexy... ''O Acordo" é um romance que vai te encantar e surpreender a cada página.Hannah Wells finalmente encontrou alguém que a interessasse. Mas, embora seja autoconfiante em vários outros aspectos da vida, carrega nas costas uma bagagem e tanto quando o assunto é sexo e sedução. Não vai ter jeito: ela vai ter que sair da zona de conforto mesmo que isso signifique dar aulas particulares para o infantil, irritante e convencido capitão do time de hóquei, em troca de um encontro de mentirinha.

Tudo o que Garrett Graham quer é se formar para poder jogar hóquei profissional. Mas suas notas cada vez mais baixas estão ameaçando arruinar tudo aquilo pelo qual tanto se dedicou. Se ajudar uma garota linda e sarcástica a fazer ciúmes em outro cara puder garantir sua vaga no time, ele topa. Mas o que era apenas uma troca de favores entre dois opostos acaba se tornando uma amizade inesperada. Até que um beijo faz com que Hannah e Garret precisem repensar os termos de seu acordo.

"- Você é uma pessoa boa, Garret. Sabia?
Uma pessoa boa? Quem me dera. Caralho, se ela pudesse ler meus pensamentos e ver todas as imagens sujas passando dentro da minha cabeça, se soubesse as coisas insanas que quero fazer com ela, provavelmente retiraria o comentário. 
Seu sorriso se amplia. (...) 
Neste momento, tudo o que eu quero é que essa menina sorria assim para mim de novo." (p. 213)


julho 11, 2016

[Livros] Amor À Moda Antiga - Fabrício Carpinejar

Título Original: Amor À Moda Antiga
Autor: Fabrício Carpinejar
Editora: Belas-Letras
Páginas: 104
Gênero: Poesia, Pensamentos
País: Brasil
ISBN: 9788581742861
Classificação: ★★★★★
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Por ser admiradora do trabalho de Fabrício Carpinejar há muito tempo, amar Amor À Moda Antiga não foi nenhuma surpresa. O que me surpreendeu foi a linda diagramação - ou falta dela - permitindo que o livro fosse publicado a partir dos escritos crus de Carpinejar. Não há revisão, não há métrica, não há padrão. O autor escreve com liberdade e traz uma poesia moderna que não se submete à nenhum obstáculo ou técnica, bem como o amor.

Desde pequena valorizava a poesia romântica que não seguia os padrões clássicos. Antes eu não entendia o motivo, mas quando percebi a magia da imagem que o próprio texto transmite, tudo fez sentido. É como se a própria estrutura da poesia fosse livre e isso é ainda mais lindo quando se fala de amor. 

Fabrício Carpinejar, com seus textos que mais parecem fragmentos de pensamentos, nos convida a sentir. Sem medo de errar, cada um dos seus versos foi digitado à máquina, literalmente à moda antiga, e publicado deste mesmo jeito. O diferencial da escrita do autor é justamente a simplicidade e o intimismo de suas poesias, como se fossem trechos de um diário. Também não há diferenciação entre maiúsculas e minúsculas, o que causa um efeito de continuidade. É como se os pontos finais não significassem um fim ou como se os começos não fossem assim tão importantes.

Um livro encantador, Amor À Moda Antiga mistura o moderno e o tradicional de uma maneira sutil. É como contar uma mesma história de uma nova maneira e é exatamente isso o que Carpinejar faz. Livre para transformar cada linha em algo novo, o autor dá asas às borboletas que antes ficavam no estômago e faz com que elas voem alto. Tão alto que ultrapassam os limites da nossa visão, os limites da poesia.

"qualquer distância é despedida.
qualquer distância é derradeira.
as crianças são mais
sinceras e sábias.
ir é não voltar do mesmo jeito.
ir é imprevisível." (p. 17)

Sinopse: Em seu aniversário de 43 anos, Fabrício Carpinejar ganhou de presente uma velha máquina de escrever Olivetti Lettera 82 verde-esmeralda. Desde esse dia, ele se dedica a escrever nela poemas de amor e a guardá-los como um inventário de seus sentimentos e emoções ao longo de sua carreira. Pela primeira vez, a Belas-Letras publica esses poemas exatamente como os originais foram enviados à editora, em maços de papel despachados pelos Correios, sem nenhum tipo de correção ortográfica, edição ou retoques, inclusive com as próprias anotações à mão feitas pelo próprio Carpinejar. Todos os textos de Amor à Moda Antiga foram originalmente escritos em máquina de escrever. O resultado é um livro orgânico, singelo e apaixonadamente imperfeito, exatamente como o amor é.

"quando nem brigar faz efeito,
nem preparar as malas assusta,
nem a ferida é chantagem,
o meu sangue será apenas esmalte
para você pintar as unhas
e ficar bonita ao seu próprio namorado." (p. 81)


julho 06, 2016

[Livros] Os Tambores do Outono - Parte II - Diana Gabaldon (Outlander #6)

Título Original: Drums Of Autumn #6
Autor: Diana Gabaldon
Editora: Arqueiro
Páginas: 469
Gênero: Ficção, Romance Histórico
País: EUA
ISBN: 9788580415346
Classificação: ★

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Círculo de pedras, século XVIII e um amor que supera as barreiras do tempo, mas dessa vez não estamos falando de Claire e James Fraser. Os Tambores do Outono - tanto parte I quanto parte II - é dedicado quase que exclusivamente a Brianna e Roger Wakefield. Enquanto tentam consertar o passado, os dois conhecem suas origens escocesas e enfrentam os mais diversos obstáculos para voltar a seu próprio tempo.

Em contraste com a primeira parte de Os Tambores do Outono, sua continuação é bem mais agitada e intensa. Com a escrita complexa e detalhista, bastante característica de Diana Gabaldon, o conjunto completo do volume é absolutamente perfeito. Realistas e fiéis à época, os acontecimentos que se seguem à chegada de Brianna Fraser ao passado são brutais. 

Além da violência que sempre esteve muito presente na série Outlander, tornam-se evidentes os contrastes entre ideologias e pensamentos de épocas diferentes. Em um tom bastante crítico, há a forte oposição de valores conservadores e modernos impactando, principalmente, na vida de Brianna. Uma garota do século XX, a filha de Claire e Jamie defende sua liberdade em tempos que a mulher mal tinha voz ou escolha.

Brianna Fraser nunca imaginou o quanto sua vida mudaria quando decidiu salvar os pais. Agir por impulso e sem medir consequências, aliás, é uma das características que ela herdou de seu pai, além, é claro, da teimosia. Sua personalidade forte, no entanto, não consegue protegê-la dos perigos que a vida nas colônias americanas lhe reserva. Em uma das mais cruéis e dramáticas cenas de toda a série, a jovem percebe que o passado pode mesmo alterar irreversivelmente o futuro.

A forma como Diana Gabaldon narra as aventuras de Claire, Jamie, Brianna e Roger é impecavelmente realista. É quase como se a autora tivesse se transportado para outro século para escrever com propriedade sobre o passado. Explorando desde História até ciência, Outlander é um mergulho no conhecimento, na formação da sociedade contemporânea, no comportamento humano sem deixar de lado a ficção e o misticismo. 

Os personagens de Outlander são complexos e cheios de nuances. Suas personalidades e comportamentos, apesar de frutos de épocas diferentes, são compreensíveis, bem delineados. Seus ethos são únicos, portanto, apesar dos laços que os unem, suas ideologias e crenças entram frequentemente em confronto. 

Um parágrafo deve ser reservado para falar sobre John Grey. Um dos mais incríveis personagens de toda a obra, o bom amigo de Jamie Fraser prova mais uma vez sua lealdade. Se ainda faltava algo para que o refinado lorde se redimisse de suas culpas, nada mais há. A forma como ele se oferece para proteger Brianna Fraser é tocante. Sua paixão proibida por um homem que nunca poderá amá-lo dilacera meu coração e, se proteger a filha desse homem é uma forma de honrar esse amor não honrado, que assim seja.

Os Tambores do Outono é um dos livros da série mais envoltos em misticismo. O som dos tambores precede a morte para um determinado povo, mas celebra a vida para outro. É uma questão de perspectiva. Essa relação contrastante entre vida e morte, fé e descrença, passado e presente é o que faz de Outlander uma obra tão genial e complexa quanto o próprio tempo.

"- Você pode... me chamar de Pa - disse ele. A voz estava rouca; ele parou e pigarreou. - Se... quiser, claro - acrescentou.
- Pa - disse ela, e sentiu um sorriso aparecer com facilidade dessa vez, sem lágrimas. - Pa. É gaélico?
Ele sorriu de volta, os cantos de seus lábios tremeram levemente. 
- Não. Só é... simples.
E, de repente, tudo ficou simples. Ele estendeu os braços para ela. Ela se aproximou e percebeu que estivera errada; ele era tão grande quanto tinha imaginado, e seus braços a envolviam com muita força." (p. 165)

Sinopse: Depois de voltar no tempo à Escócia do século XVIII e reencontrar Jamie Fraser, o amor de sua vida, Claire Randall seguiu com ele para o Novo Mundo. Agora eles moram na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e Jamie, com o auxílio da misteriosa e autoritária Jocasta Cameron, conseguiu tornar-se uma pessoa influente. As coisas finalmente parecem estar entrando nos eixos. 

Duzentos anos à frente, a filha dos dois, Brianna, encontra um recorte de jornal antigo e descobre que Claire e Jamie morrerão em um incêndio. Isso, somado à sua curiosidade em relação ao pai biológico e à saudade que sente da mãe, faz com que deixe o namorado para trás e se lance através do círculo de pedras em uma aterrorizante jornada rumo ao desconhecido. Para salvar a vida daqueles que ama, ela tentará mudar o passado, mesmo que isso signifique colocar em risco o próprio futuro. 

Assim que fica sabendo o que a namorada fez, Roger Wakefield abandona seu emprego de professor e decide segui-la. Mais uma vez, a força do amor ultrapassa obstáculos, vencendo tempo e espaço, e dá início a uma nova e fantástica fase nesta saga antológica. 

Na segunda parte de Os Tambores do Outono, Diana Gabaldon conta as aventuras de uma jovem destemida no atribulado século XVIII. Unindo sentimentos atemporais como culpa, raiva e amor a uma cuidadosa pesquisa histórica, a autora constrói uma trama inesquecível, com reencontros de tirar o fôlego e um desfecho emocionante.

"(...) - Mas um homem não é esquecido enquanto houver duas pessoas na Terra. Uma para contar a história; a outra para ouvir." (p. 358)

julho 03, 2016

[Livros] Curtindo A Vida Adoidado - Todd Strasser

Título Original: Ferris Bueller's Day Off
Autor: Todd Strasser
Editora: Gutenberg
Páginas: 160
Gênero: Romance, Ficção
País: EUA
ISBN: 9788582353790
Classificação★★★★★
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Um clássico dos anos 80, Curtindo a Vida Adoidado - Ferris Bueller's Day Off - foi adaptado para a literatura e manteve toda sua essência. No livro de Todd Strasser, está presente toda a malandragem e desenvoltura de Ferris Bueller, o ídolo dos adolescentes. Com o roteiro original do filme em mãos, o autor trouxe ainda mais profundidade à história contada nas telonas e expôs a alma do maior e mais inteligente cabulador de aulas da História.

Um dos filmes que fez parte da adolescência de muitos - inclusive da minha - Curtindo a Vida Adoidado é um ícone para todas as gerações. Acompanhar uma narrativa que você já conhece sendo contada de outra forma é, no mínimo, interessante. O processo de transformação da imagem em palavras é complexo e, apesar de retratar exatamente o que acontece na película, o impresso tem seu charme e suas particularidades.

Ferris Bueller é o garoto mais popular do colégio. Adorado por todos e queridinho dos pais, o adolescente utiliza seu carisma para conquistar tudo o que quer, desde regalias até amigos. Em mais um dia típico, Ferris decide cabular aula e com uma desculpa esfarrapada consegue convencer seus ingênuos pais de que está doente e não pode ir à escola. Além de tudo, ele ainda espalha a notícia de está morrendo entre os colegas da escola e como um bom mentiroso, todos acreditam e se compadecem dele. 

Com o dia livre, o garoto convida seu melhor amigo Cameron e sua namorada Sloane para acompanhá-lo numa aventura pela cidade de Chicago. Se envolvendo em muitas encrencas, os três aproveitam esse dia como se fosse o último de suas vidas. De certa forma, é uma das últimas oportunidades de liberdade e diversão que eles terão, afinal, em breve eles se formam no colegial e com a faculdade e o trabalho, a vida muda drasticamente. 

Enquanto tentam não ser pegos por seus pais, um diretor rabugento percebe que há algo estranho na ausência de Ferris Bueller e seus amigos e também resolve ir atrás deles. O resultado é uma perseguição desenfreada e divertida que se segue por toda a narrativa. 

O melhor amigo de Ferris é um dos personagens mais incríveis apresentados por Todd Strasser. Cameron Frye é o típico adolescente que tem que lidar com muita pressão - dos pais e de si próprio. Depressivo e ansioso, o garoto sofre ao pensar no futuro e nas possibilidades de fracasso e, ao contrário de Ferris, não é nada corajoso ou ousado. Um contrabalança o outro e essa amizade improvável é o ponto mais alto do livro e do filme. 

Cam não consegue ver o lado bom da vida, enquanto Ferris não consegue enxergar nada ruim. Com verdadeiras lições sobre como aproveitar a vida, os amigos vão descobrindo que amadurecer não é fácil e que cada minuto juntos é um tempo precioso e que não volta mais. A juventude, essa fase conturbada e delicada traz consigo um aprendizado que não se encontra nas salas de aula: a amizade é uma das coisas mais importantes que existem.

Mais do que uma crítica ao sistema educacional ou a forma como os jovens são forçados a lidar com responsabilidades muito cedo, Curtindo A Vida Adoidado é um aviso dos anos 80 que se torna cada dia mais verdadeiro. A ansiedade, o medo de falhar e a cobrança excessiva sobre os adolescentes estão fazendo com que eles virem adultos infelizes e frustrados. Ferris Bueller é tanto um exemplo de mal comportamento quanto um exemplo de sabedoria e inteligência. Um dia bonito na companhia dos seus melhores amigos pode te ensinar infinitamente mais do que uma aula de álgebra. 

"O jovem Ferris Bueller, de 18 anos - um ferrenho defensor da vida, da liberdade e da busca pela felicidade -, estava pensando exatamente em como conseguir ainda mais liberdade e felicidade naquela bela manhã de primavera. Afinal, dias como aquele foram feitos para serem aproveitados; Ferris estava certo disso." (p. 5)

Sinopse: A vida passa rápido demais. E se você não parar de vez em quando para vivê-la, vai acabar perdendo o seu tempo.

Os pais de Ferris Bueller realmente acreditaram que ele estava doente. A sua pior atuação em anos, e eles haviam caído nessa. Ferris não esperava que fosse fácil convencer o amigo, Cameron, a sair de sua fossa interior para acompanhá-lo em um dia onde o céu era o limite e não haveria nada que eles não pudessem fazer. Tirar a namorada, Sloane, da aula seria a parte fácil do plano, mesmo com a marcação cerrada do diretor Rooney e a perseguição de Jeanie, a explosiva irmã de Ferris.

Tendo Chicago inteira como parque de diversões e com a missão de fazer com que seu dia de folga seja incrível, Ferris não aceitará ter nada menos que o dia mais inesquecível de sua adolescência tão inesquecível quanto o filme de John Hughes, que completa 30 anos em 2016.

Considerado uma das obras mais importantes do cinema e o retrato de uma geração, Curtindo a vida adoidado é a expressão do sonho de jovens de todas as épocas. Afinal, quem nunca quis fugir de uma aula chata para curtir um dia lindo na companhia de seus melhores amigos?

Publicado pela primeira vez no Brasil em formato de romance, esta edição comemorativa contém altas doses de encrencas, aventuras e desculpas esfarrapadas!

"A vida passa rápido demais, Ferris pensava consigo. Se você não parar de vez em quando para viver a vida, vai acabar perdendo o seu tempo." (p. 9)


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