janeiro 14, 2015

[Livros] Proibido - Tabitha Suzuma

Título Original: Forbidden
Autor: Tabitha Suzuma
Editora: Valentina
Páginas: 304
Gênero: Romance, Ficção, Drama
País: Reino Unido
ISBN: 9788565859363
Classificação★★★★★
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Devastador. É a única palavra que chega perto de explicar o que eu senti ao finalizar essa, que foi a melhor leitura da minha vida. Sério, a melhor de todas. Proibido de Tabitha Suzuma é mais do que simplesmente polêmico, controverso e apaixonante. Com uma narrativa em primeira pessoa forte, repleta de questionamentos e extremamente consistente, a autora conduz o leitor à uma experiência única e arrebatadora. Essa resenha, com certeza, não conseguirá transmitir tudo o que eu gostaria de compartilhar com vocês. Espero que eu encontre as palavras adequadas e que eu não recomece a chorar enquanto a escrevo.

Abordando o tema 'incesto', a trama de Tabitha Suzuma é chocante propositalmente. A intenção do livro é questionar nossos próprios valores perante à sociedade. Convenções arcaicas, que nunca foram ao menos, questionadas, vigoram até hoje. No caso do incesto que é o tema central do livro, a relação de amor que os irmãos desenvolvem é muito mais pura do que muitos relacionamentos considerados 'normais'. Mas tudo o que as pessoas conseguem ver é o quanto isso é doentio, nojento e errado. Tabitha nos leva questionar: Por que o amor é errado? Quem disse que é errado? Desde sempre fomos condicionados a pensar que relações incestuosas são relações pecaminosas, desgraçadas e sujas, mas você já pensou sobre isso? Se não pensou, após a leitura desse livro sua opinião vai mudar.

Suzuma quer instigar o leitor e para isso, ela aborda uma história cruel. Os irmãos Whiteley tiveram o azar de serem filhos de dois irresponsáveis. O pai, se casou e foi embora com uma nova família e a mãe é uma alcoólatra vagabunda que vive enfiada na casa de um homem casado. O fato de que os filhos foram indesejados pelos pais é exposto a todo momento e isso só faz com que todos eles se sintam desprezados e indignos de serem amados. Os mais velhos, Maya e Lochan, acabaram assumindo a responsabilidade pela criação e educação dos três irmãos menores: Kit, Tiffin e Willa.

Em meio à loucura de tomar conta da casa, dos irmãos, da escola e de si mesmos, os dois foram obrigados a crescer cedo demais. O peso nos ombros dos dois é muito maior do que qualquer adolescente suportaria e eles se escoram um no outro para seguir em frente e manter a família unida. Se a polícia suspeitar da situação irregular em que eles vivem, todos seriam mandados para lares adotivos e separados. Lochan e Maya são a cola que mantém a família unida, eles cuidam dos irmãos como se eles fossem seus próprios filhos.

O abandono familiar é um tema forte e foi extremamente bem abordado pela autora. As atitudes mesquinhas e egoístas da mãe, mostram como ela se arrepende de ter tido filhos e como ela desconta neles sua raiva por estar envelhecendo. Exaustos, cansados e frustrados os dois irmãos mais velhos precisam lidar ainda com seus próprios problemas: Lochan sofre de fobia social, não fala com os outros. Por conta disso, ele sofre com as humilhações dos colegas e aguenta calado tudo o que a vida impõe à ele. Desde o fardo que é sua própria família, até o fardo que é sua própria vida. Maya, por sua vez, tenta parecer sempre alegre e faz o possível para que os irmãos menores não percebam o quanto ela é infeliz. Por dentro, ela está sempre se desapontando por não conseguir ser uma boa 'mãe' para os irmãos.

Lochan e Maya não se enxergam como irmãos porque nunca lhes foi permitido viver como irmãos. Desde que se entendem por gente, eles são os responsáveis pela família. A cumplicidade e amizade que os dois têm é algo raro e aos poucos o carinho fraterno que sentem um pelo outro, evolui para um amor considerado impróprio. Enquanto a sociedade recrimina os sentimentos dos dois, eles vivem o dilema de nunca poderem revelar o que sentem. Além do medo de serem descobertos, eles também sentem que estão fazendo algo errado e isso só aumenta o peso que eles carregam dia após dia. A consciência pesada, a exaustão e um amor abafado pelo simples acaso de eles terem nascido irmãos começa a acabar com eles pouco a pouco.

A personalidade única de cada um dos Whiteley foi descrita impecavelmente pela autora. Willa é uma graça de criança, a menorzinha, é o xodó de todos e traz alegria à família que parece estar sempre desmoronando. Tiffin é um pequeno sonhador, o doce garotinho também encanta por sua espontaneidade e mesmo vivendo uma vida injusta, tanto ele quanto Willa são os únicos na família que parecem ser felizes. Kit é o irmão do meio, aos treze anos ele passa pela adolescência como quem passa por um furacão. Revoltado, indignado e cansado de receber ordens dos irmãos mais velhos, ele faz o possível para tirá-los do sério e é um personagem que, apesar de ter todo o direito de se revoltar por sua vida difícil, conquistou o meu ódio eterno. Eu nunca odiei alguém tanto quanto odeio Kit Whiteley. Suas atitudes egoístas e mesquinhas se assemelham às da mãe, à quem ele tanto recrimina. Um moleque imaturo, inconsequente e que não merece os irmãos que tem.

A relação de Maya e Lochan vai aos poucos ficando mais séria e eles precisam ser ainda mais cautelosos para esconder o que eles gostariam de poder gritar ao mundo. Entre confissões às escondidas e beijos roubados, os irmãos aproveitam os fugazes momentos de felicidade e se refugiam um no outro. Mas o mundo não está preparado para uma quebra de valores tão forte e o amor que sentem um pelo outro pode significar a ruína dos dois. 

Dizer que esse foi o melhor livro que eu já li na vida não é o bastante. Essa história esmigalhou meu coração e chega a doer só de pensar. Eu demorei horas para parar de chorar e soluçar pois o livro me deixou em frangalhos. Falar sobre o livro ainda me deixa um nó na garganta e essa foi definitivamente a minha resenha mais desafiadora. Um amor proibido tão lindo, puro e sincero que não merece esse mundo doentio em que vivemos. Maya e Lochan permanecerão no meu coração enquanto ele continuar batendo.

"Não posso me permitir pensar no que significa. Não quero pensar no nome que dão a isso. Eu me recuso a permitir que um rótulo estrague o dia mais feliz da minha vida. O dia em que beijei o homem que sempre abracei em meus sonhos, mas nunca me permiti ver. O dia em que parei de mentir para mim mesma, parei de fingir que era apenas um tipo de amor que sentia por ele, quando na realidade eram todos os tipos possíveis e imagináveis de amor. O dia em que finalmente nos libertamos das nossas amarras e demos vazão aos sentimentos que havíamos negado por tanto tempo, apenas porque por acaso somos irmão e irmã." (p. 131)

Sinopse: Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis.

Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes. Eles são irmão e irmã.

Mas será que o mundo receberá de braços abertos aqueles que ousaram violar um de seus mais arraigados tabus? E você, receberia?

Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.

"- Nos ainda podemos nos amar. - Engulo em seco para aliviar o aperto na garganta. - Não há leis nem limites para sentimentos. Nós podemos nos amar tanto e tão profundamente quanto quisermos. E ninguém, Maya, ninguém vai poder jamais tirar isso de nós." (p. 186)

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